sábado, 28 de novembro de 2009

Um dia achei que ia morrer e escrevi isso

Lembra de mim dando sorrisos amáveis no reencontro
Subindo na árvore para olhar o rio
Queimando os pés na calçada quente no verão
Trancando o espirro no inverno
Lembra de como eu costumava ser

Tenta lembar de como eu costumava acordar tarde
Que eu gostava de ver os carros correndo
Da minha inspiração numa folha de papel
Que eu via o mundo como um quadro de Monet
Eu não era igual a todo mundo

Lembra do peixe assado e do bolo de cenoura
Dos sapatos novos e dos dias de chuva
Da música sertaneja e das flores
Dos ursos de pelúcia em cima da minha cama
Lembra de tudo que me fazia feliz

Esqueça das vezes que perdi a cabeça
Do caminho errado, dos gritos, das lágrimas de desespero
Apenas esqueça os dias jogados fora
Que eu já esqueci da rejeição
E também já aprendi a lição

Você pode não saber, mas eu rezava no fim do dia
Eu chorava muito pa conseguir sorrir
Eu sonhava acordada para conseguir dormir
Eu sentia falata daquilo que nunca teria
Este vazio sempre esteve lá

Lembra quando eu te abraçava para ninguém te ver sofrer
Quando eu dizia que tudo ia dar certo
Quando eu fingia ter coragem para você são se sentir fraco
Eu temia que o mundo te fizesse mal
Lembra de mim assim, de quando eu te amava

Tenta lembrar como as despedidas são difíceis
E não queira fazer disso uma coisa maior
Lembra como era fácil me machucar e virar as costas
E pensa, eu ainda estou aqui e agora até já me sinto melhor
Nem tudo acaba quando se diz adeus

E se um dia sentir a minha falta, pensa nisso:
"O bom de quando as pessoas desaparecem é que nós podemos inventar qualquer destino pra elas, bom ou ruim, só depende do quanto gostamos delas"

sábado, 21 de novembro de 2009

Sobre crescer e dizer adeus

Já faz tempo que reparo no quanto mudamos.
Lembra dos amigos que seguravam a corda pra gente pular?
Quando foi eles sumiram?
Quantos sonhos ficaram guardados na caixa de brinquedos no fundo do armário?
Já nem lembro quem foi que disse a primeira vez que aqueles seriam os melhor dias de nossas vidas.
Onde estão agora os ombros que nos apoiaram em todos aqueles momentos em que tudo parecia ser tão difícil?
Ainda estamos aqui, a maioria de nós ainda está aqui.
Hoje carregamos no rosto marcas do que ontem foi aprendizado e que agora chamam de maturidade.
Trocamos tênis por sapatos, revistas de comportamento por jornais, sorrisos por maquiagem.
Não dá pra saber o que houve desde a última vez que pulamos o muro do colégio pra matar aula, mas a imperdoável cronologia da vida fez com que tudo mudasse.
Não dava para imaginar que um dia não voltaríamos juntos para casa ou que não mais brincaríamos de pega-pega com os olhos vendados.
Mas sem que pudéssemos notar até mesmo os telefonemas enormes cessaram.
Nada é como era a anos atrás.
Quando foi que o tempo passou que eu nem vi?
Surpresa estranha essa que o futuro guardava.
Mas eu acho que é desse jeito que tem que ser não é?
A melhor despedida deve ser mesmo aquela que não sabemos qual o momento exato do adeus.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Da fragilidade humana

Às vezes me descubro numa folha de papel, num travesseiro amassado ou mesmo em um quarteto de cordas. Eu estranho o jeito como a vida é, e é nessa estranheza que não me encaixo. Às vezes me defino em uma frase, outras vezes em uma palavra apenas, que de tão repetida, perde seu sentido. Às vezes eu acho que meus conceitos são tudo o que sou, depois me decepciono ao descobrir que sou apenas um conceito, que minhas idéias não serão herança. Quando eu era criança eu construía castelos de areia na praia e ia embora antes de a onda destruir, hoje entendo quão frágil eles eram, e sei que um sopro pode derrubar muralhas. Com o tempo desaprendi a ser tolerante e a ter paciência, perdi a necessidade de agradar e o dom de fingir que me interesso, com o tempo perdi o interesse. Muitas coisas começaram a fazer sentido depois que deus virou interjeição. Heróis viraram pessoas, destino virou conseqüência, almas viraram corpos. Às vezes fico procurando respostas em pensamentos vagos, e descubro que tudo é em vão, todo mundo sabe como termina. Às vezes paro, emudeço, choro e me pergunto: e então, onde está a graça?